segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Até o Talo

Perceber que é de amor
que o mundo carece
me parece fácil,

Não basta precisá-lo.

Há que se acreditá-lo
como se fosse louco...

Há que se aplicá-lo
no peito, até o talo,
pra que se derrame
em gestos raros:

Há que se exercitá-lo.

Todo dia
como se fosse pouco...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os Reflexos da Vitrine


Nos passos apressados,
superlotações;
ônibus, filas, corações fechados.
Ninguém mais ousa,
as vitrines têm mais dos olhos
do que têm quem as olha.

Amar é outra história.

 Um pedaço de status,
dois peitos em pedaços.
Ninguém mais troca,
as vitrines refletem
entre o produto
e a vontade,
insanidade.

Uma imagem borrada de ser,
um ser borrado pela imagem.

Amar é outra vitória.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Éden


Um jardim de flores sem odor.
Nele a paz, perde o valor;
os sorrisos, o sentido.

Frio e calor
devem ser indistintos,
imagino.

A textura dos corpos
sem a ternura dos poros;
não soa nem chora.
Não goza.

Lá não se comem maçãs,
nem se distinguem noites e manhãs.
É tudo sempre muito claro
e eterno a brilhar.

O paraíso não me dá motivos.
Lá não tem desse luar...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

...


Retiro meus óculos, meus focos.
Repenso a ótica. O ser estóico.
Somos escrotos.

Seres desprovidos de futuro.

Foi-se o tempo em que a arte
era bela pela beleza.
Só a pureza do que se mostra grotesco,
pode ser arte.
E artista é quem sabe.
É quem faz hora,
vai na maciota,
porque 24 tá foda.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Barão Vermelho, lado B e você.

Nossos lábios, num beijo, se colidindo.
Era como se tudo fosse explodindo,
O som da vitrola, o meu mundo,
O compasso do disco; 
num impulso,
Nossos lábios, num beijo, coexistindo...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Poema Sólido I ( O Garrancho )


Com os agradecimentos a Tames Santos, Cesar Renzi e Gaia - Festival de Artes Integradas -14.10.11 / 15.10.11

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Quando Estamos...


Uma poesia nunca lida, nunca escrita,
- já sentida,
Sobretudo vazando de teu olhar, transborda,
- submerge a vida,

Pronto. Até levou a tempestade do tédio.

Se te há no alfabeto descrição,
- é beleza sinônima de assédio,

De conforto para o peito,

 que comporta uma bomba
que bombeia meu pulso
e bambeia meu amor - minha utopia -
o meu desejo de agarrar a sua poesia,

decorar o contorno dos seus lábios,
- a mistura dos nossos sabores,

- te beijar...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O Meio Da Semana


Não entendo o que vejo e
não domino o que sinto,
só sei duma vontade
que me escala as espinhas
e me cala de incapacidade...

Do que é feito a sua vontade, hein,
em que verbo fica seu ponto fraco...
Me explica esse peito que falta espaço
e ainda ecoa como se fosse um buraco;
me explica num beijo...

Queria rasgar essa calmaria toda,
é falsa mesmo!
Queria ouvir o que você nunca me diria,
você não o faria!

Mas que vontade é essa!
que não queima com o meu charuto,
que não se esvanece com a fumaça,
que fica acostumando minha dor...

fico bravo, xingo a tristeza,
desamo e amo tudo de novo,
só que em dobro,
me sento na mesa, tomo um leite,
me deito na cama,
respiro pesado,
sonho mais do que dormindo,
mas nada adianta
porque nada estanca
essa lacrimorragia e
nada cura essa
desesperança crônica...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Memorável dia 14


A noite está linda.
E sabe, Nega,
pedalei feito um bobo
naquele sereno
que você me pediu
pra não tomar;
mas eu juro,
tava bem agasalhado,
vestia o Dado,
naquela camisa beje
O Lipe naquela blusa marrom,
haha, e o Guga naquele jaco
jeans que lhe custou a cabeleira...

Tinha o peito seguro; vesti boas amizades.

Cê sabe, Nega,
hoje, num me lembro em qual,
teve um momento
que cheguei a pensar que todos
deveriam escrever um poema,
sei la, desorganizar a cuca
nem que fosse num só verso,
só pra lembrar de como
instantes tão pequenos
suportam tanta poesia...

Sabe, Nega,
todo esse lirismo
que eu vivo,
cheira teu colo,
você é tipo um prisma
do qual floresce a vida,
a brisa que me esvoaça
o cabelo
enquanto pedalo,
sabe, Nega, que nem
seres noturnos... não,
nada de vampiros ou diabos
apenas o Thiago e seus amigos...

Mas Nega, não é que sempre
eu fico de cara com isso,
a humanidade precisa
dessa intensidade, eu penso,
mais do que precisa do
dicoflenáco potassico
que a Pantaleão me
prescreveu naquela receita...
o meu peito chiou demais essa noite...
haha... mas não, não daquele jeito
não era de tosse,
era de um ar respirado com respeito...

Eita Nega, só vontade de você aqui
é que num cabe, transborda...
Hoje eu fui agradecendo a lua cheia
feito um bobo atoa,
pela cabeça que discerne
bobeiras que geralmente,
costumam ser nosso eixo,
nosso cerne...
Cada olhar pro céu foi um obrigado.
Grato da besta do homem ainda
ter posto só as botas nela...
Gosto nem de pensar!
É quase como se visse
alguém te pisando...
Bom, deixa eu seguir rimando,
que nessa estrofe
só cabe coisa boa,
coisa boba demais pra todo
esse progresso que a gente
já precisa pagar...

Ah Nega!
sua ausência é só pra
ter cada vez mais certeza
de como seu sorriso faz falta...
Levei você em cada expressão
que meu rosto esboçou...

Dia ta nascendo, te penso
nessa viagem pra capital,
deve ta vendo aquele cinza
de garoa triste, que só o bixo
homem soube fazer,
eu te penso, vocês três aí,
e escrevo esse verso
como quem te dedilha
nos ventos, boas energias
bons verbos...
Porque, sabe Nega,
tudo conspira pelo bem
daqueles que são bons...
seu Baltazar é guerreiro,
rei que gerou minha princesa
num ventre de rainha...
Quer mais bondade?
Trazer pro mundo assim, de graça,
toda essa beldade... haha...
Eu tinha que ser brega,
porque amo assim,
cafonamente tanto quanto
amo essa manhã cantando
bem-te-vi.
  bem-te-vi...
E eu bem que te vi hoje,
em cada instante
que meu pulmão precisou inspirar,
eu te expirei...

Sabe Nega, a vida é só mais hoje.
Sempre...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Mito da Rima


Certa vez, a Tristeza,
Sentiu carência da beleza de ser mãe,
Procurou dentre todas as entidades
Alguma que fosse capaz de lhe dar
Essa felicidade,
Tentou a Sabedoria,
mas viu que era orgulhosa demais.
Flertou com os Deuses,
  que além de desconhecer
  a importância dos defeitos,
queriam filhos para a cruz.
Procurou até a Alegria,
mas além de infiel,
descobriu que era estéril.
Exausta então, o mundo calou,
ela cambaleou
e tropeçou no colo da Loucura,
A puta,
Que de amor lhe acarinhou, e feliz,
 um filho gerou.
Mas aquela criança que nascia
dessa insana união,
fazia questão
de realizar o próprio parto,
e, portanto, vendo o casal
Que o filhote era forte,
Deixaram o cordão no umbigo,
Para que ele próprio realizasse o corte;
Nascia então,
Nutrida pelo ventre amargo da Tristeza,
E amamentada pelos seios fartos da Loucura,
A primeira rima.

domingo, 2 de outubro de 2011

Quando o Domingo Gritou


O sol nasce preguiçoso no domingo,
e o cubo carcerário televisivo,
prende uma velha geração decaída
enquanto degenera uma nova,
novamente incapaz de ver a saída:

A Arte.
Estandarte dos loucos aplaudidos
e a mãe dos protestos coloridos.

Mas, cada vez mais, os livros
vão sendo vencidos;
vendidos por uma hora a mais
de alguns programas boçais;

enquanto as crianças,
coitadas, seguem bem,
sendo adestradas
e educadas como seus ratos de estimação
correndo parados em suas gaiolas;

esses olhos vermelhos e míopes,
têm asco a este sistema medíocre,
e ainda há vezes que até o delírio
não funciona mais como colírio,

mas o que mais me faz perder
o ritmo do meu estribilho,

é que vem chegando segunda-feira,
e como sempre, vamos acordar cedo
e se conformar em vestir a mesma estribeira...